Mergulha numa profunda tristeza
existencial, uma falta, um chamado. O vento está em todo lugar, mas ele nunca
se mostra. Ele te toca, ele te deixa bem, mas você nunca vai poder agradecê-lo
ou retribuir. As ondas do mar vão e voltam, mas elas nunca são as mesmas. O
universo é gigante, mas, felizmente, ele tem um fim. Ele morre, ele vive, ele
explode, ele cria, ele destrói, ele mata. As estrelas estão no céu para dar luz
e somente isso, mas elas não se contentam. Fulas, explodem, explodem mesmo. Já
chega dessa vida destinada, não quero destino traçado, quero me jogar contra
uma parede e acabar com tudo que tinha sido determinado. Se me vier com um
destino flexível, eu me mato, mas, de alguma forma, isso vai estar escrito nas
páginas dele. E sobre o que eu quero falar na vida? Nada mais que sobre ela
mesma. Aliás, quero falar sobre o surreal dentro do real. Os sentimentos, o
emocional, as coisas que não são tangíveis, mas que nos rodeiam. As coincidências,
as personalidades, as necessidades. O obscuro, o que transcende, as nossas
palavras, o vento. A mente, que é capaz de criar a realidade de verdade. Porque
essa realidade toda é uma mentira, é uma farsa em que vivemos enquanto
procuramos, arfando, tudo que queremos. Mesmo não querendo de verdade, me atiro
ao mar ou da montanha, mas minha vida vai se mover incondicionalmente para o
que eu fui obrigado a querer ou o que eu quero mesmo. Eu vou errar, eu vou
negar, eu vou realizar, mas eu também vou desafiar o sol. Olhá-lo com meus dois
olhos frágeis e me cegar. Sou humano, sou pobre, sou mortal. Atiro-me ao céu,
mais uma vez, mas eu na verdade mergulho ao mar. E quando estou me afogando,
percebo que me enganaram. Seis semanas de tristeza, lágrimas que formam o
outrora céu, estou dentro de um quadrado meio virado, e dentro dele eu me jogo
para outra dimensão. Um plano, uma realidade, uma existência, um Deus, uma
mentira, um som, um assobio, uma filmagem, uma fissura, uma transcendência. Um
chamado horroroso de um espírito machucado, alguém que está aflito por não ter
vivido de verdade. Se pegam nos ouvidos de qualquer pessoa milhões de frases
mal interpretadas e esquecidas, um desperdício da voz. Gritos e mais gritos, eu
continuo fazendo. Eu me jogo ao sol mais uma vez, mas agora eu não sei o que
fazer, porque eu estou realmente indo para o Sol. Quando chego lá, a luz é
artificial. O chão é totalmente frio, como o azulejo da minha casa. Eu olho para
a Terra e ela está pegando fogo. Será que todos estão vivos? Eu tenho que
ajudar, eu tenho que salvar quem eu posso. Não, eu vou ficar aqui e dar um
sentido ruim para minha vida. Passaria o resto dos meus dias me culpando pelo
que deixei de fazer, e então me jogaria no preto do universo, mas nunca
chegaria a lugar nenhum. Até que um buraco no tempo e espaço me engolisse e eu
me tornaria uma parte de um órgão. Sou morto, mas eu estou vivo. Isso tudo
porque quero contar histórias sobre mudanças, sobre escolhas e sobre aceitações.
Sobre tradições e críticas e a utopia da perfeição. Eu quero falar sobre
sofrimento, sobre falsa felicidade, mas também quero falar de calma e de
felicidade real. Eu quero estar vivo, mesmo morrendo a cada segundo. Um, dois,
três, morrendo, morrendo, como eu posso continuar querendo estar vivo? Meu relógio
conta cada minuto, mas eu não ligo pra ele. Deito no chão e encaro o piso
branco eterno, minha própria jaula, meus horizontes fechados, minhas opções.
Minhas limitações riem de mim no branco que é tão negro quanto no universo em
que eu costumava estar, e porque eu saí de lá mesmo? Eu podia ter me acomodado,
droga, eu estava tão bem. Mas aí que o relógio me grita de novo, e eu entendo
que o tempo passa tão rápido que nós não podemos nos capturar em nenhum
momento. Uso meu próprio sangue e escrevo nas minhas paredes sujas o exato
sentimento de milhares de anos atrás. Quero que meu sofrimento fique marcado
onde eu durmo, porque ele vai embora assim que eu acordo, por vários dias.
Quando olho meu relógio de novo, tudo acabou. A droga da história de que se vê
a vida toda antes de morrer, mas isso é exatamente a vida. Estou vendo ela passar
porque esse sou apenas eu antes que minha alma vire energia para o universo e
eu esqueça tudo, mas para que outro eu nasça. Vivo neste ciclo vicioso, mas
nunca vou poder me largar dele porque minha felicidade em pedaços vale cada
osso quebrado. Estou vivo para ter minha história nas páginas amarelas de um
livro de capa preta. Quero dormir em uma estrela toda noite. No fim,
explodiremos juntos.